A História de um Gym Leader

terça-feira, 3 de março de 2020

Capítulo 1 - Há Esperança

2 comments




Deitado na cama está Marcos, jogando em seu 3DS como de costume.

18 e alguma coisa, cabelos curtos e castanho escuro penteados para frente, olhos cinzas, para combinar com seu semblante depressivo, e alguns pelos esporádicos no rosto.

Ele escuta a porta abrindo.


— Filho? — Diz o pai de Marcos, entrando no quarto.
— Oi pai. — Responde sem tirar os olhos do seu jogo — Bate na porta da próxima vez, por favor?
— Tá, tanto faz... — Ele caminha até a cama — Não quer ir lá fora? Pegar um arzinho, um solzinho... você parece um sulfite!
— E se eu gostar de ser um Sulfite?
— Que seja, mas Vitamina D é importante!

Marcos não responde, mas aumenta o som do seu jogo como protesto.

— Eu só queria que você... vivesse um pouco mais. Já faz dois anos, filho. Não importa que você desistiu, você-
— Por favor, não vamos falar sobre isso. — Disse Marcos, finalmente fazendo contato visual.

O pai de Marcos suspira. Ele sabe que não tem como convencer o filho à lutar contra sua depressão.

— Se... você sentir fome, comprei uns biscoitos. Estão no armário. — Ele se vira e sai do quarto — Vou voltar pro conserto. Qualquer coisa chama.

Marcos respondeu com um “tá” demorado. Seu pai trabalhava como autônomo, consertando qualquer coisa envolvendo eletrônica. Caixas de Som, Ventiladores... tudo. Ele era ótimo nisso.

Marcos não fazia nada da vida ainda, além de fazer vídeos ocasionais sobre batalhas para seu VideoHost, que ainda não lhe rendiam dinheiro. Ele tentava vender desenhos ou responder à enquetes online, mas nada disso lhe rendia muito dinheiro.

Ele tentou entrar para a Universidade em Goldenrod para estudar Artes, mas sua nota não foi suficiente. E as faculdades de Olivine eram caras demais para ele pagar.

Ele tentou tocar piano, mas desistiu pois não tinha coordenação motora o suficiente para controlar suas duas mãos no piano, ou pelo menos ele achava.
Ele tentou tocar violino, mas acabou desistindo quando seu professor não pode mais ensiná-lo, mesmo tendo aprendido relativamente rápido.

Ou seja, ele estava parado. E se achava um lixo por estar parado.

Seu telefone então recebe uma notificação. Seu telefone é um Silph Gearfone C. Os Gearfones eram “atualizações”, por assim dizer, dos Poké Gear, entrando na era dos Smartphones. Ele não se comparava em nada com um Rotom Phone – ainda mais o modelo C, que é um Celular básico – mas servia bem para ele.

Oi.Me encontra no farol pfvr? Tenho um negócio pra te contar

Era o que dizia a mensagem, vinda de Jasmine.

nn dá. Tô doente.

Respondeu, jogando o celular pro lado.
Quase que imediatamente, veio outra mensagem. Marcos rosna e pega o celular de novo.

Doente o krl! Vem logo ou eu mando meu skarmory te busca
Seguido de várias emojis irritados.

Marcos suspirou, rolou seus olhos e cedeu. Ele não queria ser carregado pra fora do quarto por aquele Skarmory de novo.

tá já chego.

Ele deslizou seu celular para dentro do bolso e, como se doesse, levantou da cama.
Ele pegou suas chaves e documentos de identidade e algum dinheiro e enfiou em seus bolsos também.

Antes de sair do quarto, ele olhou para trás. Em uma cômoda, estavam as Poké Balls de seus Pokémon, em um suporte. Ele sorriu e pegou a primeira.

— Eu não posso sair sem você.

...

Olivine é uma cidade praiana. Em dias com bastante vento, você pode sentir o cheiro da brisa do mar de todos os pontos da cidade.

O Porto de Olivine é muito famoso, ele traz grande parte da riqueza de Olivine. E é lá que está o Farol.

O Farol é iluminado por Amphy, o Ampharos de Jasmine. Aparentemente, esse foi o primeiro Pokémon dela, visto o grande apreço que ela tem por ele. Se algo acontece com ele, ela simplesmente some do Ginásio e vai ficar com ele, e, como este Ampharos em especial tem a saúde frágil, apesar de ser bem poderoso, Jasmine tem que ficar fora do ginásio várias vezes por ano – as vezes até por mês.

Jasmine é amiga de longa data de Marcos. Eles costumavam brincar juntos quando eram crianças. Jasmine era tão próxima de Marcos que ela costumava expor o seu lado mais rude apenas com ele – já que o mesmo também não se importava muito com isso, sabendo que ela não queria machucá-lo.

E como todos a veem como “aquela menina doce e tímida”, ninguém acredita quando Marcos fala os “podres” que ela fala em uma conversa normal.

Do lado de fora do farol, lá estava Jasmine, sentada em um dos bancos.

— Até que enfim! Pensei que eu tinha que ir te buscar mesmo!
— Oi.
— Quanta apatia. — Ela se levantou e apertou as bochechas do jovem para cima, forçando um sorriso nele — Sorri um pouco pra sua bestie pelo menos, homem.
— Ê xolta. — Ele tentou falar. Jasmine o soltou rindo — O que aconteceu? Quer que eu fique de babá pro Amphy de novo?
— Eita, parece até que eu vivo te chamando só pra isso! — Marcos cruza os braços e lança um olhar irritado para Jasmine — B-bom, enfim! Eu te chamei pois quero conversar algumas coisas com você.
— Você tá terminando comigo?
— Cala a boca, idiota. Ahem. Bom, como você sabe, eu tô terminando minha faculdade em Medicina Pokémon. Assim como eu estou planejando dedicar mais do meu tempo ao Amphy. O tempo tá muito doido esses dias, e tá assolando o pobrezinho...
— Sim...?
— Então... Eu preciso que alguém cuide do meu Ginásio!
— Você tá me dando seu título de Líder de Ginásio??
— Não. É contra as regras do Comitê fazer isso. Se não eu não te mandava cuidar do Amphy, te mandava direto pro Ginásio. — Jasmine pausou. Ela percebeu a confusão e ansiedade na cara de Marcos, e soltou um risinho — Eu te inscrevi na Liga Olivine!
— É O QUÊ???
— É ué. E você é forte, tem um ótimo time. Ganha facinho. E como você é recomendação minha, você nem precisa fazer toda a papelada e provas. Só entregar os documentos e vencer o povo nas batalhas.
— Mas... E se eu não conseguir? Eu não entro em batalhas competitivas há tempos! E tem gente que se esforçou mais do que eu, e eu tô entrando assim de gaiato? E também- — Marcos foi interrompido por um cascudo dado por Jasmine — AI! POR QUE FEZ ISSO?
— POR QUE TÁ AGINDO DE FORMA PATÉTICA DE NOVO! PARA DE SE REBAIXAR!

Marcos coça a cabeça enquanto põe um braço pra trás, fazendo careta. Ele cansou de escutar as pessoas falando pra ele parar de se rebaixar. O problema é que ele não via motivos para se elevar.

— Você é um treinador que tem as 8 insígnias de Johto! Você já é um treinador de alto escalão!
— Como se alguém me reconhecesse por isso.
— Eita, tá bom que não estamos em Galar que o povo lá até recebe patrocínio, mas para pra pensar em quantas pessoas se inspiram em você! No seu canal tem uma pá de gente que procura VOCÊ pra dar conselho de batalha! Você tem propriedade.
Marcos reconhece o que Jasmine fala. Ele mesmo sabe disso. Mas ele não consegue segurar isso como algo que o faça se sentir importante, relevante.
— Você deve receber um E-mail há qualquer momento com as datas e tudo. Se é que não já recebeu. Quero ver você arrasando eles!
— Eu... Sei lá, Jas, acho que não é pra m- — Jasmine deu outro cascudo em Marcos, dessa vez, mais forte — ‘TA QUE PARIU, ISSO DÓI!
— Se não vai pelo amor, vai pela dor. Para de se rebaixar se não eu dou é uma voadora em você.
— Com amigos assim, quem precisa de antidepressivos faixa preta com efeito colateral...
— Eu só quero ver você animado de novo. Quando a gente era criança você vivia assistindo os campeonatos da Liga Galar e ficava dizendo o quanto queria se tornar um Líder de Ginásio como eles...

Isso era verdade. Marcos sempre se encantou pelos Ginásios de Galar e como a Liga Pokémon de lá era levada a sério. Muitas Ligas Pokémon pelo mundo começaram a mudar, inclusive, quando a popularidade da Liga Galar foi subindo em outras regiões.

Marcos sentiu algo estranho, uma sensação que ele não sentia há algum tempo. Talvez desse tudo certo dessa vez!

O que ele estava sentindo... era esperança? Ele sempre achou que sentir esperança fosse estúpido. Tanto que se reprimiu quanto à pensamentos de “vai dar tudo certo”. Ele conseguia sentir ansiedades e expectativas, no entanto. Mas sempre se frustrava. E sempre acabava colocando a culpa na esperança.

— Eu... vou tentar!
— Isso! — Jasmine abraçou Marcos. Marcos a abraçou de volta — Eu estava esperando que você falasse isso. Eu sinto novos ventos, Marquinhos. E eles sopram pro seu lado!
— Acho que sim... — Ele respondeu, meio sem sal. Ele ainda não estava positivo quanto a isso. Mas sentia algo bom vindo disso tudo. Ele só não conseguia explicar como e por quê.
— Bom, eu vou checar o Amphy agora. Checa o E-mail assim que puder e me conta TUDO.
— Beleza. — Ele disse, fazendo um “joinha” e forçando um sorriso amigável.

Ambos se viraram e seguiram seu caminho.
Passando pelo porto, Marcos parou, e ficou de frente pro mar.
Ele sentiu a brisa e o Sol fraco da tarde na pele. Era uma sensação boa.

Ele puxou a única Poké Ball do seu cinto e soltou seu Pokémon de dentro.

O Pokémon que se apresentou era um Aggron, o Pokémon Armadura de Ferro.
O Pokémon rosnou contente e abraçou seu treinador.
Marcos acariciou a mandíbula do Pokémon e sorriu. Sorriu como há muito tempo não sorria. Ele voltou-se ao seu Pokémon, e, radiante, falou:

— Hagane! Temos esperança!


2 comentários:

  1. E no final ele perdeu nas eliminatórias... não havia esperanças, era tudo uma falsa ilusão que ele quis acreditar para tentar justificar sua inutilidade perante a vida, no fim das contas Marcos era apenas nada, sua existência á não fazia diferença no mundo, talvez as pessoas fossem mais feliz sem ele por perto para encarnar o fracasso, então ele caminhou em direção ao penhasco, a maior ironia de sua vida foi que a unica coisa que ele realmente teve exito foi ter dado um fim a ela...

    De repente meu comentário assumiu um tom muito depressivo... Vou apagar, hum... Pensando bem deixa ele ai trololo, lembre que esse mini trecho não reflete minha esperança em marcos, eu confio que ele tem capacidade de conquistar seus desafios.

    Ser um grande líder de ginásio, ta ai um objetivo legal para um personagem, veremos se o Marcos ira saber dosar a dificuldade dos desafios.
    Bom ver que a Jasmine se preocupa com ele e não o deixou ficar no fundo do poço.

    Acho que é isto meu querido escritor Ivson, te vejo na próxima! Até lá.

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    1. hahahah

      Você refletiu muito bem o medo do próprio Marcos.

      Agora só o futuro dirá como ele irá alcançar os objetivos dele...
      Abraço, man!

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